sexta-feira, outubro 30, 2015

BRASIL DE FATO: Mulheres debatem feminismo negro interseccional na zona leste de SP

Atividade antecede a primeira Marcha das Mulheres Negras que acontece, em novembro, em Brasília (DF).
30/10/2015
Por Simone Freire,
Da Redação

 
 Foto: Reprodução
Em novembro, mês da Consciência Negra, milhares de mulheres pretendem ir às ruas de Brasília (DF) debater gênero e o recrudescimento do racismo no país na Marcha das Mulheres Negras. Para chamar a atenção para a mobilização, a União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (UNEafro) promeve um encontro, neste sábado (31), às 14h, em São Paulo (SP), para debater o feminismo negro interseccional.
"Alcançar mais mulheres da periferia" é o intuito da atividade, segundo a advogada e integrante do movimento, Rosângela Martins. Junto dela, Sueli Carneiro, escritora e diretora do portal Geledés; Jarid Arraes, jornalista do Blog Questão de Gênero; e Ellen Souza, integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras; compõe a atividade, que é gratuita e aberta ao público.
O evento é promovido na sede do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), na Rua Colonial das Missões, 204, em Itaquera, zona leste de São Paulo.
Na atividade também será realizada a 2ª edição do 'Bazafro' do Núcleo Impulsor da Marcha das Mulheres Negras, com venda de roupas, calçados e comidas.
Marcha
Construída nacionalmente, a primeira "Marcha das Mulheres Negras, contra o racismo, o machismo e pelo bem viver" acontece no dia 18 de novembro, em Brasília (DF). Segundo o núcleo impulsor estadual da mobilização, em documento, ela acontece pela "urgência em contrapormos a atual conjuntura social de violência contra a mulher e a juventude negra, e de recrudescimento do racismo em São Paulo e no Brasil".
No documento, as mulheres ainda elencam uma série de reivindicações acerca da realidade da mulher negra no país, que não possui representação política, que sofre cotidianamente com o racismo e o machismo, além da desigualdade no mercado de trabalho, intensificada pela agenda política atual do país.
Somos "contra a retirada de direitos e conquistas históricas dos trabalhadores e trabalhadoras, e contra a retirada de direitos e a precarização ainda maior do trabalho, que nos afeta mais duramente", enfatizam.

quarta-feira, outubro 28, 2015

BRASIL DE FATO: Redação do ENEM pode fazer com que mulheres “percebam que não estão sozinhas”, diz pesquisadora

Exame trouxe violência contra a mulher como tema da redação e questão citando Simone de Beauvoir; Advogada e militante da UNEAfro acredita que escolas particulares podem abrir os olhos para essa realidade.
28/10/2015
Por Bruno Pavan,
De São Paulo


 
  
No último domingo (25), o Ministério da Educação (MEC) resolveu abordar o tema da violência contra a mulher no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma das principais portas de entrada para diversas instituições de ensino universitário. O tema da redação do exame foi “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” e foi motivo de muita comemoração entre as feministas brasileiras. 
“Ter a violência doméstica como tema de redação de uma prova que é a entrada para tantas universidades federais no Brasil significa fazer com que 7 milhões de estudantes reflitam sobre isso. Durante a redação, as mulheres tiveram a oportunidade de parar para refletir e, talvez, perceber que não estão sozinhas, que a violência de gênero é real e precisa ser tratada como tal pelo poder público”, disse a educadora do Instituto Paulo Freire Deisy Boscaratto. 
De acordo com uma pesquisa do DataSenado, em 2013, 83% das mulheres ouvidas já tinham sofrido violência doméstica. O relato mais comum é o de violência física, com 62%. Violência moral e psicológica foram apontadas por 38% e 39% respectivamente.
Reações conservadoras
Além da redação, uma questão da prova também abordava a questão do feminismo. Ela citava um trecho da obra de Simone de Beauvoir “O segundo sexo” que diz: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”.
Logo a citação foi alvo de críticas dos deputados conservadores Jair Bolsonaro (PP/RJ) e Marco Feliciano (PSC/SP) que acusam o governo de “doutrinação marxista”. “Me parece que a inserção desse texto, uma escolha adrede, ardilosa e discrepante do que se tem decidido sobre o que se deve ensinar aos nossos jovens”, disse Feliciano.
Para a advogada e militante da UNEAfro Rosangela Martins a obra da escritora francesa quer alertar para o papel da mulher em uma sociedade patriarcal e de classes. “[ Os deputados] distorcem a frase que quer explicar o que é ser mulher numa sociedade de classes, e que, dependendo da sua educação, o seu papel na sociedade já vai estar pré-estabelecido”, explicou.
Boscaratto reforça que a tentativa de chamar de o ENEM de doutrinador ou marxista e colocar o feminismo como algo exclusivo da esquerda serve para “manter os privilégios que o patriarcado traz”.
“A importância de falar sobre violência contra a mulher não é algo que contempla só as mulheres de esquerda. Estamos falando de todas as mulheres. A alegação da 'imposição de uma doutrinação feminista' me parece, nesse contexto, um ataque à tentativa do ENEM de colocar em pauta a mulher”, criticou.
Papel da mídia
Não é raro ver mulheres nos telejornais e na publicidade na mídia televisiva e impressa no Brasil. Acontece que normalmente elas são extremamente estereotipadas ou hipersexualizadas, o que faz com que haja uma naturalização da violência e do feminicídio. Essa é a opinião da pesquisadora e psicóloga Rachel Moreno.
“Os programas sensacionalistas reproduzem e exploram a violência e isso tem como consequência a naturalização. Fora que há sempre uma suspeita do comportamento moral da mulher que eventualmente justifique um ato de violência. Na publicidade o que acontece é uma exploração do corpo da mulher. Temos um comportamento mostrando que a mulher tem que se exibir pra chamar a atenção e o quanto que isso é desejável. Além de criar um certo padrão de beleza que é impositivo porque é autoritário e que não tem a ver com a mulher brasileira”, criticou.
Ela ainda aponta que em várias democracias que colocaram em prática a regulamentação da mídia existem pontos que proíbem a reprodução de violência sexual, psicológica, patrimonial, moral e de esteriótipos e preconceitos contra a mulher.
Um novo momento?
Desde 2011, quando o Ministério da Educação vetou o kit anti-homofobia nas escolas, a questão de gênero tem sido amplamente debatida nos planos estaduais e municipais de educação. Na capital paulista, por exemplo, pressões de setores conservadores fizeram com que o texto original do plano municipal fosse alterado sem que tivesse qualquer menção a questão de gênero.
Martins reforça que os cursinhos populares sempre se preocuparam com a formação política dos alunos e sempre tentam fazer os recortes de gênero, raças e classe e que a escolha dos temas do ENEM podem também influenciar outros cursinhos a adotarem essa visão mais progressista.
Para Boscaratto, com a escolha do tema da redação, o MEC tomou uma posição nesse debate político entre forças conservadoras e progressistas. Mas a pesquisador se mostrou cética quanto a uma mudança de direção na estrutura da educação do país.
“Estamos longe de ter o apoio da sociedade brasileira nas questões de direitos humanos. Ela também é, assim como Bolsonaro, racista, machista, homofóbica e classista. O ENEM, sozinho, não tem como mudar estas posturas, elas tem que ser mudadas durante toda a formação do ser humano. Mas apontar essa postura como problemática já é um grande avanço”, destacou.










quinta-feira, outubro 08, 2015

Entrevista na TV LBV - pela UNEAfro Brasil - Ações Afirmativas

Em breve a Boa Vontade TV (da LBV) publicará a íntegra da entrevista na qual a convidada foi a militante Rosângela Martins, advogada feminista, do núcleo Teresa de Benguela, da UNEafro Brasil. O programa Sociedade Solidária abordou ações afirmativas, combate ao racismo e também um resgate histórico sobre a criação da UNEafro, seus princípios e atuação de base desde 2009. — com Uneafro Teresa de Benguela e Rosangela Martins Borges